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Opinião: Mortal Kombat é o melhor filme inspirado em um game

"A sua alma é minha"

Faço parte da geração que cresceu com Harry Potter. Logo, discutir a qualidade de adaptações cinematográficas em comparação com as obras originais sempre fez parte da minha vida de "entusiasta" do cinema. Já defendi a ideia de que filmes precisam ser exatamente iguais aos livros ou quadrinhos nos quais se inspiram, assim como estive no grupo de extrema oposição à ideia, pregando a liberdade absoluta dos roteiristas e diretores. Com o lançamento do primeiro trailer de Detetive Pikachu, decidi falar aqui sobre Mortal Kombat, que considero o melhor filme inspirado em um game.

Muito antes de assistir ao primeiro filme da saga de J.K. Rowling, meu pai havia me apresentado ao fascinante universo de Mortal Kombat. Aos três anos, ganhei meu primeiro console, o Mega Drive, e algumas fitas -- uma chamada Top 10 (que incluía Street of Rage, Golden Axe, Sonic e Revenge of the Shinobi), outra dos Power Rangers (a adaptação do primeiro filme) e Ultimate Mortal Kombat 3, um dos que eu mais jogava com ele.

Nesta mesma época, lembro-me de ter assistido aos dois filmes inspirados na franquia pela primeira vez: Mortal Kombat e Mortal Kombat 2: A Aniquilação. Imagino que tenha sido doloroso para os meus pais, pois meu irmão mais novo e eu preferíamos a versão legendada, embora não soubéssemos ler rápido o suficiente para acompanhar as falas. Eles precisavam ficar lendo para nós em voz alta.

Apesar de eu não entender muito bem alguns termos, mesmo em português, o primeiro dos dois filmes me marcou o suficiente para que eu o assistisse de novo várias vezes. Somente quando entrei na discussão sobre adaptações com amigos, aos 10 anos, época em que eu fingia ter lido os então seis livros de Harry Potter, me lembrei de que existiam outras adaptações muito presentes em minha vida: as adaptações de games.



Street Fighter, Resident Evil e Alone In The Dark (ou Sozinhos no Escuro, o que rendia péssimas piadas) eram alguns dos filmes que eu adorava assistir depois da escola, mesmo sabendo tudo que aconteceria em todos eles.

Com o tempo vieram outros, como Silent Hill e, mais recentemente, Warcraft. Embora eu tenha me divertido de verdade com muitos deles, simplesmente não consigo pensar em um que seja tão bom, de fato, quanto o primeiro Mortal Kombat.

A primeira justificativa que encontrei para isso é a ausência de enredo dos games nos quais se inspira o primeiro filme de MK -- que mistura acontecimentos e personagens dos dois primeiros jogos da série.

Como a história de ambos os jogos era contada por meio de telas que só apareciam se os jogadores não apertassem "start" no menu inicial -- e poucos tinham paciência para ler tudo --, muitas pessoas enxergavam Mortal Kombat apenas como um game de luta cheio de sangue e golpes especiais. Tudo bem, eles não estavam tão errados.



Não se pensava muito no aspecto narrativo da franquia e isso pode ter sido fundamental para que, nas adaptações, algumas mudanças do enredo fossem mais bem aceitas pelo público, que talvez nem tivesse informação alguma a respeito dos jogos originais, fora os nomes dos personagens.

Liu Kang passou a ter um irmão, Scorpion soltava uma cobra pela mão em vez de jogar uma lança e Art Lean, um personagem secundário que não existia nos games, parecia fazer sentido em meio a tudo aquilo, já que a morte dele servia apenas como justificativa para os heróis ficarem com ainda mais raiva de Shang Tsung e companhia.

Embora estivessem diferentes, os personagens não tinham sido completamente ridicularizados, como Ryu foi em Street Fighter, ou substituídos por uma protagonista que não existe na obra original, como Alice em Resident Evil. O material base foi respeitado e, para os padrões das histórias dos games de Mortal Kombat da época, até melhorado. Claro que o enredo continuava sendo apenas uma justificativa para a porrada, mas passou a existir uma profundidade maior nos personagens.

Os fãs mais apaixonados, inclusive, com certeza sentiram certo arrepio quando Shang Tsung pronunciou "Flawless Victory", traduzido como vitória impecável, pela primeira vez ou quando ouviram "Fatality", traduzido como fatalidade, após Sub-Zero explodir um figurante em vários pedacinhos de carne congelada.



Outro grande feito do filme de Mortal Kombat foi emplacar um enorme sucesso que muitas pessoas passaram a associar aos games com o tempo, como se tivesse surgido neles: a música-tema. Acredite você ou não, a música de Mortal Kombat que todos conhecessem foi criada para a adaptação e não para os jogos.

Simplesmente não existe qualquer outro filme inspirado em um jogo que tenha tornado algum aspecto de si mesmo tão conhecido e elogiado a ponto de ser confundido com a obra original. Aliás, espero há anos pela inclusão da música-tema do filme em algum game.

Tão importante quanto a qualidade da trilha sonora é o cuidado com a utilização dela. A música-tema da abertura, por exemplo, é reutilizada em um tom diferente na primeira coreografia que inclui Liu Kang, Johnny Cage e Sonya Blade lutando contra ninjas. A alteração do tom tem como intenção a "harmonização" da música com os gritos dos personagens enquanto lutam e soltam os tradicionais grunhidos de dor e esforço.



Tal cuidado felizmente não se limita ao som. Embora não sejam dignas de Oscar, a direção de arte e fotografia contribuem para a criação de uma atmosfera um tanto quanto assustadora. A ilha de Shang Tsung, assim como Outworld, é ao mesmo tempo mística e medonha, duas palavras-chave para a franquia como um todo.

Partindo para algo bem mais evidente, temos também as lutas. Todas muito bem coreografadas e sincronizadas com o áudio, de maneira que assisti-las é semelhante a acompanhar uma dança extremamente agressiva -- e não tão frenética quanto em um filme do Jackie Chan, por exemplo.

Vale destacar ainda o casting, já que, embora não sejam todos grandes atores, Robin Shou é um excelente Liu Kang, assim como Christopher Lambert é um bom Raiden, Talisa Soto é uma boa Kitana e Cary-Hiroyuki Tagawa é o perfeito Shang Tsung.



Acima de qualquer aspecto técnico, o filme de Mortal Kombat é o melhor entre as adaptações cinematográficas de games por fazer algo que, embora pareça simples, já se mostrou uma tarefa extremamente complexa: respeitar a obra original e ser livre dentro de um limite coeso naquele universo. Se você discorda e tem algum outro favorito, sinta-se à vontade para nos contar na sessão de comentários abaixo.

Fonte: Br/Ign

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18 Nov, 2018 - 21:35

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