Lampião Verde é o indie brasileiro que mistura a rica cultura do nordeste com o universo dos quadrinhos
"No pingo do mei dia mais alumiado/Na noite mais malassombrosa e rimunhenta/ Nenhum mal fugirá das minhas vista/ Que os caba tem parte com o puder do tinhoso se desmantelem todim de medo do meu puder/ A CLARIDÃO DO LAMPIÃO VERDE!"
É desse jeito que o jogo independente Lampião Verde – A Maldição da Botija pretende usar o infinito mundo dos quadrinhos para prestar uma homenagem a cultura do nordeste do Brasil. Desenvolvido pelo estúdio Narsvera, de Campina Grande, na Paraíba, o jogo será um side-scroller com elementos de endless runner e survival para dar vida a um personagem baseado em um dos maiores representantes da cultura nordestina: o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.
A história do game se desenrola quando o cangaceiro, já aposentado, vai em busca de uma botija que concede grandes poderes a quem encontrá-la. Porém, quando Lampião encontra o tal artefato, ao mesmo tempo que o objeto concede poderes especiais, ele também acaba jogando uma maldição sob o personagem. Assim, todas as pessoas que Lampião matou durante a sua vida acabam voltando para atormentar o cangaceiro. Com este gancho, o jogo contará as aventuras de um herói que busca o controle sob os seus poderes ao mesmo tempo que tenta encontrar o caminho para se livrar da tal maldição.
Em entrevista ao Kotaku Brasil, o gerente de projetos e diretor de arte da Narsvera, Rubem Medeiros, de 29 anos, afirmou que a ideia para desenvolver o jogo surgiu quando um outro trabalho envolvendo o personagem Lampião teve que ser cancelado devido a alguns desentendimentos com um antigo cliente. A partir daí, para não desperdiçar um personagem tão bem elaborado, os integrantes da Narsvera decidiram utilizar o que foi criado no trabalho anterior para fazer surgir um outro totalmente novo, dando início ao projeto.
"Recebemos uma encomenda para o desenvolvimento de um jogo de super-herói que seria lançado junto com o clipe de uma banda. Nele, o Lampião Verde seria apenas uma das roupas que o jogador poderia escolher para seu herói", diz Medeiros. "Acabou que, por desentendimentos com a banda, não lançamos o jogo e, para não perder todo um trabalho que tínhamos desenvolvido, resolvemos transformar o Lampião Verde em protagonista".
"Daí em diante, nosso entusiasmo pela cultura nordestina e pelo universo dos super-heróis fez com que a narrativa fosse surgindo espontaneamente e, quando percebemos, tínhamos na mão um projeto bem maior e mais interessante que esperávamos".
Veja o primeiro trailer lançado para o jogo:
É claro que é impossível não olhar para a arte – muito bem feita, por sinal – de Lampião e não lembrar do universo do herói Lanterna Verde, da DC Comics, no qual os desenvolvedores usaram como uma das fontes de inspiração para o jogo.
O cangaceiro parece ter saído diretamente das páginas da HQ de Bill Finger e Martin Nodell, mas no entanto, Medeiros tratou de avisar que a história de Lampião Verde possui vida própria e que o jogo não se trata de uma paródia de Lanterna Verde. "Ele tem origem, poderes e todo um universo próprio, resultado da hibridização de lendas e costumes nordestinos com a linguagem dos quadrinhos de super-heróis".
Entretanto, mesmo com suas diferenças, Rubem também afirma que Hal Jordan e Virgulino possuem sim as suas simetrias. "Talvez a maior semelhança entre os dois seja a prática da transgressão das regras", diz o desenvolvedor. "Tanto Virgulino quanto Hal preferem resolver os problemas por conta própria, sem se preocupar com alguma autoridade. Por outro lado, ambos também são muito empenhados em ajudar os mais necessitados. Virgulino, mesmo sendo um bandido para alguns, sempre fazia caridade aos mais pobres por onde passava. Agora com superpoderes, poderá fazer bem mais".
Porém engana-se quem pensa que Hal Jordan e seu anel são as únicas inspirações para o jogo pois, segundo o desenvolvedor, outros grandes nomes e movimentos do Nordeste também ajudaram na formulação da ideia. "A real intenção do projeto do Lampião Verde, que pretende ser uma franquia, é colocar os gamers em contato com um universo cultural nordestino que compreende desde as criações fantásticas de Ariano Suassuna, passando pela Literatura de Cordel, até às alegorias poéticas de Elomar [Figueira Mello], Xangai e o movimento da nova cantoria", afirma Medeiros. "Sabemos que a valorização da cultura regional é um importante fator de afirmação da identidade de um povo".
Nesta primeira etapa do projeto, os desenvolvedores irão disponibilizar o jogo gratuitamente para smartphones e tablets, através do iTunes e do Google Play. Mais para frente, a segunda etapa é criar uma campanha de financiamento coletivo para lançar uma versão maior e mais elaborada de Lampião Verde para PC.
Ainda de acordo com Rubem, o maior desafio na hora de trabalhar em um jogo como este é a dificuldade de aliar o baixo orçamento – o game custou cerca de R$ 25 mil nesta primeira etapa – com a alta qualidade vista em produções AAA. "Quando o estúdio é indie e pequeno, as áreas que mais sofrem restrições são de playtest e marketing", disse o desenvolvedor que também afirma que a Narsvera tem as suas cartas na manga para driblar este tipo de empecilho. "Estamos desenvolvendo novas ferramentas de inteligência artificial para diminuir o custo de playtest e, na área de marketing, também estamos elaborando estratégias não tradicionais para fazer a divulgação".
Atualmente, o número de desenvolvedores da Narsvera varia de acordo com o projeto. O jogo de Lampião Verde envolveu seis pessoas, mas a empresa também possui outros trabalhos que envolve ainda mais profissionais como, por exemplo, o Danças da Paraíba, um simulador de forró que foi o primeiro jogo a receber o apoio do Fundo de Incentivo à Cultura da Paraíba, no ano passado.
Porém, o estúdio não fica apenas na área de games. A Narsvera também possui trabalhos em áreas como cinema, dança e música, que discutem questões sobre o universo em geral e também sobre a rica cultura nordestina.
Para Rubem Medeiros, a cidade de Campina Grande, um dos maiores polos industriais e tecnológicos não só da Região Nordeste como da América Latina, possui diversos talentos na área, porém, a falta de investidores é um obstáculo para que os estúdios se tornem maiores. "Falta a percepção dos investidores que jogo digital é um negócio sério, lucrativo e com potencial de crescimento exponencial", afirmou Rubem, que ainda diz que esta situação, aos poucos, está começando a mudar. "Com a maior profissionalização das empresas, especialmente nas áreas de gestão e negócios, isso está mudando aos poucos. Dá para enxergar um futuro promissor".
Abaixo, um vídeo do gameplay do jogo:
Embora Lampião Verde – A Maldição de Botija esteja adiantado, o jogo ainda não tem data para ser lançado. Agora, o próximo passo do estúdio é lançar o beta do jogo ainda este mês. Serão sorteadas mil chaves para o público e, segundo Rubem, só faltam alguns detalhes para que o beta seja finalizado.
"Ainda estamos montando o servidor que irá registrar as estatísticas de gameplay e também implementando algumas técnicas mais recentes em termos de game design envolvendo inteligência artificial", afirmou Rubem. "Isto está levando algum tempo, mas dá para garantir que o beta chegará ainda em dezembro".
Quem se interessou em testar Lampião Verde e todas as suas novidades é só fazer o cadastro para o beta no site da Narsvera. Quem quiser ainda pode curtir a página do jogo no Facebook para ficar sabendo das etapas de seu desenvolvimento.
KECITHE 03 Dez, 2014 14:43 0
Battleface 03 Dez, 2014 09:56 1
sophos_nsm 03 Dez, 2014 00:04 0
mas boa sorte aos devs
borgatiger 02 Dez, 2014 23:34 1
CHAOS25x 02 Dez, 2014 23:27 0
artwork, ok
trailer do jogo, muito ok
ae quando eu vou descendo a págino e vejo a gameplay... decepcionante.
jhonnygamer 02 Dez, 2014 23:18 2
Vitordb 02 Dez, 2014 19:20 -1
Adolfok3 02 Dez, 2014 17:38 0
arcova 02 Dez, 2014 17:10 0
Marlon018 02 Dez, 2014 17:00 2
sophos_nsm 02 Dez, 2014 16:29 3
garrafa de ceramica usada para por água ou itens. é tipo aqueles jarros que vc deve ter em casa mas a botija tem tampa e era usado para guardar coisas (geralmente água).
peplegal 02 Dez, 2014 15:46 0
Mas afinal...que diabos é uma BOTIJA ???
O Google ora descreveu que é uma garrafa, ora um Baú, ou um Vaso de Cerâmica.