Coluna: fale menos e jogue mais
"Não joguei ainda, mas pelo que vi até agora merecia entre 8 e 8,3". Não é preciso se aprofundar muito na internet (praticamente qualquer notícia do BJ serve a esse propósito) para perceber que pessoas adoram conversar sobre games, mesmo aqueles que nunca jogaram antes. Graças a vídeos do YouTube, blogs, artigos no Wikipédia e sites especializados, temos acesso a uma quantidade imensa de informações que servem como base para a realização de debates e discussões infinitas.
No entanto, parece-me que, em meio a tudo isso, não resta mais muito espaço para o jogo em si. Não me entendam mal: até mesmo por trabalhar com a área, nos últimos anos passo mais tempo lendo sobre games do que efetivamente os jogando (o que resultou em um backlog que exigiria praticamente um ano de jogatina ininterrupta para ser finalizado), então entendo bem o que pode levar a essa situação.
"Nunca joguei, mas pelos vídeos merecia um 8. O BJ manja nada"
O problema que noto nesse sentido é que a internet parece estar criando uma geração de "manjadores terceirizados", que passam mais tempo discutindo as opiniões alheias do que expondo o resultado de suas experiências próprias. A impressão que fica em muitos casos é a de que estamos conversando com uma "enciclopédia humana", que sabe tudo de um assunto, mas somente de forma superficial — quase como o acadêmico que é Mestre em engenharia, mas não saberia reformar um cômodo nem se a sua vida dependesse disso.
Blablabla, mimimi e suas variantes
Talvez o maior problema de falarmos excessivamente sobre jogos eletrônicos (desperdiçando um tempo de jogo precioso) é o fato de que, inevitavelmente, todas as discussões parecem cair em algum lugar-comum. Se na geração anterior as exclusividades e números de venda dominavam as "discussões", atualmente é difícil não ver verdadeiras batalhas verbais sendo travadas com base em tecnicalidades — com espaço para um sempre singelo "a Nintendo vai falir" no meio de tudo isso.
Devo ser bem sincero: estou mais do que cansado em ler comentários do tipo "ai, mas tal game roda a 1080p e 60 fps no meu console, chupa <insira aqui o nome da empresa da qual você não gosta&rt;". Não somente por ser um jogador de PC, no qual tais aspectos não parecem ter mais tanta importância, mas também por saber que, na prática, a maioria das pessoas que se apegam a isso sequer nota a diferença na hora de jogar.
Isso somente para mencionar um dos aspectos mais recentes da eterna "Guerra dos Fanboys®", especialista em usar aspectos irrelevantes como forma de fomentar rivalidades. Parece-me que, ao se focar em discutir se a "Frostbite" é melhor do que a "Unreal Engine 4" ou se vale a pena investir nesse ou naquele exclusivo, deixamos de prestar atenção ao que realmente interessa: a diversão.
"Meu console tem mais resolução que o seu, lalalala"
Em meio a todo o bate-boca online, é raro ver alguém discutindo mecânicas ou usando impressões subjetivas para justificar o porquê de ter gostado de algo. A impressão que fica é a de que, se não usarmos como base critérios "objetivos" como a taxa de quadros por segundo ou a qualidade gráfica de alguma produção ("mas olha lá, tem serrilhado, jogo lixo"), nossa opinião será considerada inválida, já que não estamos sendo "imparciais" em nossa opinião (uma clara contradição em termos).
Uma mudança de foco é necessária
Talvez eu esteja sendo tolo em esperar que critérios técnicos e comparações superficiais deixem de ser usados como "munição" para discussões online, mas penso que um dia vamos perceber que há muito mais a se falar em relação a jogos eletrônicos. Tal qual acontece com a literatura ou cinema, sonho com um momento no qual vamos passar a ignorar critérios técnicos e nos focar na essência de um game ao tentar discuti-lo.
Em vez de falar sobre como os gráficos de Child of Light são "infantis", por exemplo, seria muito mais interessante ver discussões sobre as técnicas literárias empregadas em sua narrativa. Ou melhor: voltar aos bons tempos em que, em vez de tentar destrinchar as entranhas de um jogo, simplesmente nos preocupávamos em falar com nossos amigos sobre aquela sala secreta que você encontrou e ninguém mais parece ter visto.
O dever chama: há alguém errado na internet
Um bom exemplo de como a discussão sobre jogos eletrônicos pode ser enriquecida e, por que não, ganhar ares mais "leves" pode ser o de séries como Game of Thrones. A cada semana, quem acompanha a produção está mais interessado em discutir os acontecimentos do último episódio e suas consequências do que se apegar a picuinhas como o ângulo de câmera de determinada cena ou as roupas utilizadas por um figurante.
Talvez seja inocência de minha parte achar que podemos iniciar discussões sobre games baseados em quesitos semelhantes devido à grande dependência que esse universo tem em relação a avanços técnicos. Mesmo assim, acredito que chegamos a um ponto no qual já não há mais tanto sentido focar discussões na quantidade de polígonos de um personagem ou do número de partículas que essa ou aquela plataforma consegue mostrar.
E é justamente dessa crença que nasce o título desta coluna: em vez de discutirmos tanto critérios técnicos, não seria melhor usar toda a energia e tempo dedicados a isso a simplesmente jogar? Não é muito mais prazeroso explorar Azeroth, as ilhas caribenhas, Eorzea ou outro cenário de sua preferência em vez de perder horas xingando outra pessoa usando como único critério opiniões alheias, vídeos do YouTube ou listas com especificações técnicas?
Não defendo o fim das discussões online, até porque é possível tirar muitas informações importantes e interpretações inusitadas delas. No entanto, diante de um cenário no qual os argumentos vazios reinam, talvez seja melhor aprender a fazer um pouco de "silêncio" e apreciar a forma de entretenimento que tanto nos dá prazer, sem transformá-la em uma mera ferramenta destinada a "brigar com o coleguinha".
danielluis 09 Mai, 2014 20:59 2
kakuseysha 09 Mai, 2014 20:06 1
peplegal 09 Mai, 2014 16:29 0
Sabe o que aconteceria com o IBOPE da Internet se todos os comentários inúteis fossem Proibidos ? Nada ! (...talvez até aumentasse).
Sabe por quê ? Porque comentários tolos afastam os usuários inteligentes. Da mesma forma que comentários "espertos" os atraem.
Se de um lado, existem 1000 vezes mais usuários imbecis...de outro lado, os comentários bem feitos geram debates mais interessantes, atraindo pontos de vistas de pessoas mais críticas...e a discussão fica mais profunda.
Veja nosso exemplo: Eu não concordo com seu ponto de vista, mas ele foi bem colocado ( e merece ser discutido). Cabe a mim discordá-lo com argumentos plausíveis.
Alguns usuários concordarão comigo...e outros contigo...e opinarão adequadamente. Veja como a discussão se "enriqueceria"...gerando mais "movimento".
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kakuseysha 09 Mai, 2014 09:02 2
peplegal 09 Mai, 2014 08:18 4
Que matéria bacana !
Ela descreve bem o problema...mas falhou em apontar as Verdadeiras causas :
1 - Necessidade brutal e insana do indivíduo querer se expressar
Sim esta é a causa nº 1. O carinha fica "doente" se não botar pra fora qualquer m.e.r.d.a que esteja sobrevoando sua cabecinha transtornada. É uma forma de mostrar que ele "existe" para o mundo.
2 - "Eles têm que saber minha opinião"
Opinião é que nem b.o.s.t.a....todo mundo produz, não vale absolutamente nada, mas cada um acha que a sua não fede.
3 - Mais do Mesmo
Há uma "Regra de Ouro" que diz que SÓ devemos opinar se isto fizer alguma diferença, produzir alguma mudança. Ou seja, se tal comentário trouxer um novo Enfoque, uma nova Direção nas idéias.
4 - Falta de Maturidade (e Cultura )
É legal ver a mulecada se expressando...certo ? ERRADO !
Não se gasta o dinheiro que não se tem...do mesmo modo: não se opina sobre assuntos que não se conhece. Aprender vem antes de Explicar.
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XGarbas 09 Mai, 2014 07:42 1
Cheguei a experimentar o Goat Simulator (piratão pois não sou Tywin Lannister pra cagar ouro), e afirmo que está longe de ser um bom jogo. Mas deu para divertir muito por volta de uma ou duas horas.
O jogo em si apela para o lado "bugado" que existe nos games, satirizando ao máximo este aspecto.
O mapa em si é interessante, mas limitado/pequeno, uma vez que fora todo explorado.
Bem, o que te faz prender nele é o fato de existir uma LISTA de conquistas, a qual é o único motivo para te fazer jogar por mais de uma hora. Tarefas que variam entre descobrir um lugar secreto ou permanecer no ar por N segundos.
Resumindo, este jogo foi feito para quem gosta de uma "zuera". Do tipo de jogador que curte apenas explodir a cidade no GTA, sem fazer missões nem nada.
Com o modo online, creio que a bagunça aumente, mas acho que não vou estar lá para ver. Haha
Jeff 08 Mai, 2014 22:01 2
Como que alguém joga Goat Simulator? Como?!
ItalloIgor 08 Mai, 2014 20:55 4
Mas confesso que já me surpreendi com jogos que eu não esperava gostar.