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A Tecnologia de No Man's Sky e sua importância para a indústria

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As palavras do momento no mundo dos games e mais especificamente da E3 2014 foram "Procedurally Generated" e elas foram ditas aproximadamente um milhão de vezes por Sean Murray (Diretor/Fundador) e David Ream (Diretor de Criação) da Hello Games. A quantidade de jornalistas confusos por essas palavras e sobre como No Man’s Sky pode ser possível é enorme, eu mesmo procurei em diversos artigos e entrevistas com os criadores da Hello Games para tentar entender e explicar aqui como esse tal de "Procedurally Generated" funciona.

"Procedurally Generated" ou "Gerado Processualmente" significa basicamente que de certa forma o jogo é montado aleatoriamente por um computador em tempo real e não por pessoas e modeladores, mas isso é uma tecnologia que vai um pouco além do que estamos acostumados.

Se em Skyrim nós vemos uma árvore próxima a Whiterun, ou mesmo uma parede quebrada em Winterhold, sabemos que tanto a árvore quanto a parede (e a rachadura) foram "manualmente" criadas por um dos membros da equipe da Bethesda, então fazer um lugar como Skyrim cheio de árvores, paredes, animais, personagens, clima e tudo mais é bem trabalhoso, isso, porque Skyrim é um país, imagina fazer um continente inteiro? Imagine agora fazer um mundo… impossível, certo? Imagine fazer o UNIVERSO!

A Tecnologia de No Man’s Sky

Agora antes de explicar como funciona a tecnologia do game, peço que dê uma olhada nos vídeos abaixo mais uma vez, o trailer que eles mostraram na E3 e o que mostraram na VGX, para eu não precisar explicar detalhe por detalhe do que há de extraordinário no game:

Trailer da E3 2014



Trailer da VGX 2013



Pois bem, nos dois vídeos acima podemos perceber duas coisas, a primeira é que temos um universo inteiro a ser explorado da forma mais livre possível e que o universo é gigante e variável, no segundo vídeo podemos ver diversos lugares e climas diferentes e ainda a possibilidade de exploração submarina. No primeiro vídeo podemos ver uma troca de planeta e uma viagem espacial sem uma tela de load sequer e como percebemos, cada planeta é massivo, de acordo com o pessoal da Hello Games é possível que cada um dos planetas do jogo sozinhos sejam maior que praticamente todos o espaço de um jogo comum, possivelmente apenas um planeta é muitas vezes maior que toda Skyrim para dar um bom exemplo.

Agora vem a parte mais complicada da tecnologia, imaginem um planeta inteiro maior que a Skyrim, com vida (ou não) nele, com eventos acontecendo, mesmo que sejam apenas eventos climáticos e aí você pensa em um número enorme de planetas, digamos uns 100 planetas (ou 1000) e mais o enorme universo, estrelas e tudo mais e você se questiona, quantos Blu-Rays esse jogo vai precisar?

Tecnicamente nenhum e é aí que as coisas ficam mais complicadas, se formos analisar a seguinte frase de Sean Murray "É um universo bem grande. Ele contém cada variável possível e é o mesmo universo para todo mundo. Nada dele existe num disco, nada dele existe na nuvem. É apenas gerado enquanto você voa. Quando você chega lá ele é gerado e é gerado sempre da mesma forma."

Sem ver um exemplo da tecnologia funcionando isso me parece um algoritmo que gera território enquanto você se aproxima dele com as variáveis já salvas em um disco, ou no seu HD ou na nuvem, mas pensando pelo lado em que todos os jogadores jogarão no mesmo universo, mas em partes extremamente distantes deles e que as ações de um jogador podem impactar outro, aparentemente esse algoritmo está na nuvem e não no disco na sua casa, mas isso me faz pensar se não seria muito mais fácil gerar o universo e deixa-lo inteiro na nuvem, bem, eles devem saber motivos melhores do que eu para não fazer isso, mas me parece arriscado a um dia dar um crash e as pessoas não poderem mais jogar, ou mesmo um crash resetar o universo, vai saber o quão problemático esse algoritmo pode ficar depois de executado milhões de vezes.

Enquanto você voa para um planeta, o planeta tem uma semente que define todas as variáveis e tipo de coisas que vivem lá, que tipo de grama, que tipo de árvore, tudo, e tudo isso está sendo gerado enquanto você voa para o planeta. Quando você chegar lá, já estará tudo pronto. Mas sempre será o mesmo, então se você voa para um planeta e vê uma arvore em um ponto especifico, eu vou voar para o mesmo planeta e ver a mesma arvore no mesmo lugar. Então é jogado fora quando você vai embora. Sempre será o mesmo. É uma função matemática que sempre retorna o mesmo resultado. Existem camadas e camadas de matemática que criam o universo inteiro.

Sean Murray

Mas resumindo, seja lá como essa parte da tecnologia é feita, ela podia ser feita usando a nuvem então ela não é o ingrediente mais misterioso nem o mais intrigante de No Man’s Sky, o grande mistério é como um time de apenas 4 pessoas conseguiu criar um universo inteiro tão abrangente, tão amplo, tão enorme e tão diversificado? Tem até gente por aí dizendo que o jogo é fake e que deveria ser apresentado em um 1° de Abril e todos os jornalistas que falaram com a Hello Games perguntaram primeiramente "Como esse jogo sequer é possível?" e eles acham essa uma pergunta estranha.

Vamos começar a falar da vida nos planetas em questão, só no vídeo da E3, nós vimos alguns animais semelhantes a cervos de diferentes tamanhos, grama (laranja), diversas árvores e vários dinossauros, alguns da mesma espécie, mas diferentes entre si. Fazer isso em uma cidade é possível, a Rockstar faz isso em GTA, a Ubisoft faz (em menor qualidade), a Bethesda como eu exemplifiquei acima faz isso, mas fazer isso para um planeta inteiro? É possível, ok, mas é bem improvável para 4 pessoas, mas que tal fazer isso para um universo inteiro! Como eles criaram tantas coisas? Lembrem-se que a promessa é que cada planeta é único e cada criatura é única.

A resposta aparentemente é mais simples do que parece, afinal, ela já foi respondida acima, Procedurally Generated ou Gerado Processualmente, basicamente, de acordo com um exemplo de David Ream eles precisam criar uma árvore, basicamente um protótipo dela e a engine sozinha cria variações e mais variações da mesma, dentro dos padrões que eles estabeleceram para o conceito de árvore.

Aparentemente, o mesmo vale para animais, um outro exemplo que ele deu, é que se eles constroem um gato, as variáveis podem transformá-lo em um leão ou em um tigre, ou se eles permitirem, em algo nunca visto, ou em uma espécie de mutação felina tudo com apenas um click do mouse.

Basicamente é o mesmo quando você consegue criar um personagem em um RPG, digamos Dark Souls 2, onde seu personagem pode ser criado com vários opções visuais, no fim o que a engine do jogo faz é pegar um tipo de objeto e criar centenas de milhares de variedades deles, baseados em pre-sets da engine. As criaturas semelhantes a cervos do planeta de grama laranja mostrado no trailer da E3 2014, por exemplo, são de vários tamanhos, formas e sexos, existem até uma variedade de idade nos animais que vão de bebê a idosos e se você reparar, todos tem um tom de cor diferente, mas nenhum deles é azul, vermelho ou roxo nem tem cabelos no lugar de chifres, porque cada modelo do jogo tem seus pré-sets e variações que não permitiriam uma mudança a ponto de descaracterizar o modelo.

Até as naves do game são Geradas Processualmente, existem padrões como TER ASA, COCKPIT, SER SIMÉTRICA e alguns detalhes a mais e o resultado final é completamente randômico e ainda assim todas as naves são instantaneamente pilotáveis e cada uma delas é única em seus próprios padrões de armas, de pilotagem e tudo mais, tudo gerado pela própria engine e não criada uma a uma.



Murray explicou que essa tecnologia é libertadora, pois ela não é presa ao conteúdo, é algo que eu grosseiramente poderia dizer que é uma espécie de Loren Ipsum dos games, mas não pense que vai ser algo tão genérico quanto pode parecer falando assim por alto.

É um jogo muito direcionado a arte. Algumas pessoas podem achar que toda essa coisa processual vai ser chata e branda porque não é gerada por pessoas. E tem uma grande diferença aqui. Grant (o diretor de arte) está recriando as coisas que amamos. Esquema de cores, formas e tudo mais. O que significa que cada coisa e cada criatura será interessante. A demo que nós fizemos foi conceituada 6 meses atrás. Então eu descrevi a forma como a demo deveria fluir baseado em coisas que eu sabia que acontecia naquele planeta. Então nós olhamos e vimos coisas que não existiam naquele mundo, como cavernas, formações de rochas e coisas assim. E por isso nós geramos um sistema que faz isso e esse sistema está fazendo cavernas pelo universo inteiro, seguindo um conjunto de regras e também estamos colocando flores na base das árvores, criando cachoeiras e tudo isso.

Seam Murray

O que Murray disse realmente faz sentido, não vejo como criações automáticas e aleatórias poderiam deixar o jogo chato, especialmente quando há conceitos e regras por trás de tudo criado, se algo criado no mais puro acaso fosse chato, bem o nosso mundo seria bem depressivo.

Agora com isso explicado, imaginem o tamanho de No Man’s Sky. De acordo com a Hello Games ele é infinito, mas o conceito de infinito é difícil de explicar até para o Neil DeGrasse Tyson sobre o nosso próprio universo, imagine para um Game, então depois de algumas perguntas mais incisivas, ficou claro que o tamanho do Game tem um limite, mas as possibilidades dele não. Mas se o tamanho tem um limite, o quão grande esse jogo é? A frase seguinte explica isso:

Digamos que temos um milhão de jogadores no jogo, e que esse um milhão de jogadores estão localizados de forma equidistante sobre um único planeta. Eles estariam muito longe um do outro. Dessa forma, na superfície de um planeta, olhando para qualquer direção do horizonte eles não poderiam nem ver um ao outro.

Entretanto, o que muita gente diz e com certa razão é que o fato do jogo ser tão imenso e por outro lado não ter propósito definido ou história alguma possa deixá-lo chato, de acordo com a Hello Games basicamente você surge no universo e daí você tem o universo para explorar e descobrir coisas para fazer e isso pode ficar exponencialmente chato com o tempo, como várias pessoas já estão comentando.

Obviamente eu ainda não joguei No Man’s Sky, ninguém jogou na verdade, até a parte imprensa que estava na E3 só viu 10 minutos a mais de jogo do que nós e estou extremamente ansioso pela experiência de jogá-lo, mas uma parte minha intuição me diz que o resultado final pode ser menos satisfatório que o Hype atual do jogo, não tecnologicamente, mas idealisticamente eu não sei quantas pessoas vão voltar e voltar ao jogo simplesmente por estar lá, obviamente Minecraft existe para provar que eu posso estar errado, mas é um jogo que faz parte de uma espécie de nicho entre os Gamers e No Man’s Sky pode acabar virando a mesma coisa. Entretanto, eu mal posso esperar até uma Bioware ou uma Bethesda ter uma tecnologia semelhante a essa em mãos. Se No Man’s Sky não mudar para sempre o conceito de como se faz videogames, é certamente o primeiro passo para uma mudança.

E você, qual a sua aposta para o jogo? Ainda sobrou alguma dúvida sobre como a tecnologia do game funciona? Vamos discutir melhor sobre No Man’s Sky nos comentários abaixo.