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Depois do Game Over: lembra do péssimo jogo do Dr. House?



Hugh Laurie é realmente talentoso. Além de ter atuado em diversos programas de comédia, dar vida ao famoso Dr. House e escrever livros, o astro britânico resolveu entrar para o mundo da música. Na verdade, agora mesmo, enquanto você lê esse texto, Hugh está no Brasil para divulgar seu trabalho musical em shows bem legais. Mas será que você sabia que sua história tem uma página negra? Pois é, estou falando de House MD, um dos piores e mais obscuros jogos do Nintendo DS. Haja vicodin para aliviar a dor de jogar essa atrocidade!

Dissecando um péssimo game

O game foi desenvolvido pela Legacy Interactive Games, que possui um verdadeiro doutorado na arte de produzir jogos medíocres. Dona de "clássicos" como Zoo Vet: Endangered Animals e Pet Pals: New Leash on Lifee Emergency Room: Real Life Rescues, só pelo currículo já dá para sacar que os caras estão altamente credenciados para desenvolver bons jogos licenciados, né? Até me espanta que a LJN não tenha ressurgido das cinzas para publicar House MD.

O mais legal é que o mesmíssimo jogo foi lançado para computadores antes de chegar ao Nintendo DS, e ao invés de recebermos um só cartucho com o mesmo conteúdo, recebemos cinco episódios separados a um preço salgadíssimo. Se a versão completa para PC já não era lá um ótimo negócio, imagine pagar pelo pacote completo em cinco prestações! Só sendo um viciado em sentir dor para desembolar seu dinheiro nessas tranqueiras do DSiWare. Juntos, os cinco jogos são tão divertidos quanto ficar cinco semanas hospitalizado.


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Todo mundo gosta desse jogo. E todo mundo mente.

Assim como no seriado, cada um dos cinco episódios disponíveis começa com uma apresentação do paciente adoecendo de modo súbito e inesperado, sofrendo de uma doença que só um time de especialistas, como House e sua equipe, podem solucionar. Felizmente são apenas cinco casos chatos para resolver antes do fim do jogo, então você pode acabar com todo o sofrimento rapidinho.

Se o seriado segue sempre uma fórmula, o jogo ao menos tenta reproduzi-la fielmente. Há sempre a cena do quadro de diagnóstico diferencial em que o médico e seus escravos/empregados discutem sobre os sintomas, depois todos partem para a sala de exames onde descobrem que estavam errados, apenas para depois invadir a casa ou local de trabalho do paciente para descobrir a verdadeira causa de sua doença. No fim descobrimos que ele mentia sobre algo, House dá um esporro em todos e pronto. Igualzinho ao seriado, certo? Errado.

Na série, por mais que a fórmula fosse previsível, a qualidade dos diálogos e a interpretação fora de série do fantástico ator britânico Hugh Laurie tornavam tudo muito divertido. No jogo para DS, parece que todo o roteiro foi escrito por uma criança de cinco anos. Todos sabemos que o médico mais ranzinza da televisão é extremamente sarcástico e irônico, mas acima de tudo ele é muito inteligente e engraçado. Infelizmente, no DS, ele é simplesmente um babaca. Por exemplo, no seriado House diria algo como "Se você fala com deus, você é religioso. Se Deus fala com você, é psicótico.". Esperto, não? No DS essa fala se tornaria algo como "Você fala com Deus? Idiota.". Toda a sutileza é defenestrada sem qualquer piedade e substituída por insultos vazios.

Como você deve imaginar, a falta de verba empregada no game (ou talvez a vergonha alheia causada pelo "roteiro") fez com que ninguém do seriado se envolvesse no processo de desenvolvimento do jogo, então não espere ouvir as vozes de nenhum dos amados atores do seriado. Ao menos o visual é bonito no geral e cada tela parece uma bela pintura. Mas se isso tivesse algum valor nos videogames, era mais fácil eu ir numa exposição do Monet ou Picasso e dizer que ela é candidata a jogo do ano, não é?


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Tentativa e erro. Muito erro.

A jogabilidade de House MD pode ser dividida entre partes de investigação e de minigames e é bem difícil apontar qual a pior delas. É como escolher entre comprar um Polystation e um Zeebo: de qualquer modo você está se dando muito mal.

Na parte de investigação você precisa examinar os pacientes. Para fazer isso, basta clicar nas áreas em destaque de seu corpo, e depois escolher qual equipamento quer usar para investigar melhor. Ou seja, é só um processo de tentativa e erro, sem qualquer estímulo intelectual, algo que se reflete nas demais mecânicas de investigação. Nas entrevistas com os pacientes, basta clicar em todas as opções de diálogo até que uma delas se mostre a correta, e o mesmo ocorre nas cenas em que a equipe discute o diagnóstico diferencial.

Toda essa facilidade e burocracia de escolhas acaba tirando o senso de urgência dos casos. Se na televisão você sempre se importa com os pacientes e com o sucesso de House e sua equipe, torcendo para que eles consigam salvar as vidas das pessoas, aqui não existe qualquer empatia, de modo que salvar uma vida é tão gratificante quanto um jogo de plataforma em que você só precisa andar em linha reta sem encontrar qualquer obstáculo. Sem desafio e sem urgência não há recompensa, e você encontra mais adrenalina jogando aquele "Jogo da Operação" da Estrela do que nesse "simulador" de hospital.

Para completar o pacote, há minigames "bacanas", todos tão divertidos quanto assistir a uma maratona de Grey’s Anatomy. Há um pouco de tudo no pacote, desde burocráticos procedimentos nada desafiadores como tirar amostras de sangue e realizar biópsias, passando por missões chatíssimas e cansativas como manter uma centrífuga girando em alta velocidade, até tarefas aleatórias como pegar um sanduíche e entregá-lo escondido para o Dr. House ou buscar objetos escondidos no cenário no melhor estilo daqueles joguinhos simplórios de Facebook. É elementar, meu caro leitor, que os controles respondem pessimamente nessas partes, e para piorar a situação, além de serem terrivelmente medíocres, alguns dos minigames possuem tutoriais absurdamente entediantes que não podem ser pulados.


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De volta à rehab

Talvez a coisa mais irritante no jogo inteiro seja o enorme potencial desperdiçado. Todos sabemos que produtos licenciados não costumam dar certo nos videogames, mas House é um dos personagens mais carismáticos da história da televisão e todos os enigmas que o cercam no ambiente hospitalar poderiam muito bem render uma boa aventura. Quem sabe até mesmo uma mistura dos elementos das franquiasProfessor Layton e Trauma Center? Mas não, preferiram transformar o jogo em uma novelinha interativa, burocrática e previsível, igual às que o médico costuma assistir na televisão quando está fugindo das suas tarefas de clínica. Meu diagnóstico final? Esse jogo já nasceu irremediavelmente doente e a eutanásia aqui seria um ato de piedade. Então tire o game da miséria e acabe com sua triste existência, e depois vá pra rehab se desintoxicar de todo o contato que teve com esse lixo.

Fonte: Pop

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25 Mar, 2014 - 08:04

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