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Trabalhar na Netflix parece ser um inferno

Existem muitos, muitos empregos que são bem piores do que trabalhar na Netflix. Mas com base em um perfil extenso sobre a cultura da empresa, a companhia de streaming parece ter construído uma versão única do inferno corporativo.

Citando entrevistas com mais de 70 empregados e ex-empregados (alguns deles pediram para não ser identificados), o Wall Street Journal publicou uma reportagem sobre a cultura de trabalho na Netflix. A matéria detalha a filosofia pavimentada a partir de ligeiros conselhos de auto-ajuda, o exagero das escolhas de negócios, disrupção do Vale do Silício e vão de comprometimentos moderninhos a uma transparência radical. Mais do que tudo, parece bizarro.

As fontes do perfil descrevem o "jeito Neflix" como uma estrutura fundada na honestidade brutal, humilhação habitual, jargões internos e medo constante. É uma mistura de elementos que muitas pessoas da cultura corporativa podem reconhecer, mas de acordo com muitos funcionários, trata-se de um processo caótico difícil de dominar enquanto a companhia continua seu plano de dominação mundial.

Acima de tudo, o "jeito Netflix" significa demitir qualquer pessoa que não seja qualificada como a melhor das melhores. É exigido de supervisores que se aplique o "Teste de Guardião" (Keeper Test, em inglês), um teste em que perguntam a si mesmos se brigariam para manter algum funcionário em suas equipes.

Aqueles que não levam o teste a sério e não são capazes de demitir os funcionários mais fracos da equipe podem ser os próximos a serem colocados na rua. Uma ex-vice presidente de marketing descreveu ao WSJ um episódio na qual ela trabalhou em um final de semana para promover a segunda temporada de Orange Is the New Black na cidade de Nova York e recebeu um comunicado de que seu chefe queria fazer uma reunião no começo da segunda-feira. Quando ela chegou à reunião, disseram que ela havia sido demitida por não se "encaixar na cultura".

Tawni Nazario-Cranz, chefe do escritório de talentos, disse posteriormente à ex-executiva de que ela deveria ter demitido uma das pessoas que ela supervisionava. Ela falhou no "Teste de Guardião". Nazario-Cranz foi demitida no ano passado. Diversos gerentes disseram que eles sentiam que deveriam demitir pessoas, se não se pareceriam bonzinhos demais.

Demissões podem ser abruptas, mas a Netflix mantém o posicionamento de que a sua cultura radicalmente transparente deveria dar a todos uma boa ideia de onde eles estão. Os executivos participam regularmente de mesas-redondas nas quais se criticam mutuamente e todos os funcionários são encorajados a dar feedback uns aos outros.

Quando alguém comete algum erro, é esperado que que façam uma retratação pública e expliquem aos outros o que fizeram de errado em um processo chamado de "sunshining" (um trocadilho com relação a jogar luz sobre o assunto). Quando alguém é demitido, um e-mail é enviado para os funcionários explicando detalhadamente por que foram demitidos. Muitas vezes, esses detalhes são descritos em pormenor em reuniões presenciais com todos os funcionários.

O CEO Reed Hastings é descrito como um adepto dessa cultura e vários ex-funcionários disseram que ele está "livre de emoções" – de um jeito bom. Um bom exemplo de sua excelente habilidade em não ter sentimentos foi quando ele demitiu o ex-gerente de produtos Neil Hunt por falhar no "Teste do Guardião".

Hunt estava na Netflix desde o início e era um amigo próximo de Hastings. Mas no ano passado, Hastings foi até Hunt e explicou que a expansão da empresa fez com que Greg Peters fosse um nome mais adequado para a posição e que então ele assumiria o controle. Hunt estava na rua.

A Netflix disse ao WSJ que embora a maioria das empresas façam decisões pessoais baseadas em uma divisão 80/20 entre habilidades e aptidão à cultura, o serviço de streaming prefere pesar as coisas em 50/50. O Gizmodo pediu um comentário da Netflix e um porta-voz da companhia enviou o seguinte comunicado:

Acreditamos fortemente na manutenção de uma cultura de alta performance e dar às pessoas a liberdade de darem o seu melhor no trabalho. Poucos controles e uma grande prestação de contas permitem que nossos funcionários se desenvolvam, tomem decisões mais inteligentes e criativas, o que significa um melhor entretenimento para os nossos assinantes. Acreditamos que partes dessa matéria não refletem como a maioria dos funcionários se sentem sobre a Netflix, mas estamos constantemente trabalhando para aprender e melhorar.


Matar ou ser morto parecia ser aceito como um modo de operação. Um funcionário expressou que o sentimento era como viver com medo de ser demitido, todos os dias, durante uma reunião com executivos. Uma vice-presidente chamada Karen Barragan teria respondido a essa reclamação dizendo: "Que bom, o medo te guia". Barragan contesta que tenha dito isso.

O fato é que a maioria dos funcionários entrevistados pelo WSJ não foram tão duros com a Netflix, mesmo que não concordassem com a maneira com que esse cultura funciona e mesmo que sentissem que ela era cruel. Pagar salários extremamente altos para os empregados ajudou a tornar a visão sobre as coisas menos pior. Mas muitas fontes disseram que coisas como o "Teste de Guardião" eram apenas um jeito chique para cobrir políticas padrões do trabalho e que os esforços de transparência eram apenas embaraçosos e esquisitos. Alguns disseram que as demissões em público simplesmente alimentavam as fofocas.

Isso também causou um choque enquanto a companhia se expandia rapidamente, assumia mais dívidas e enfrentava concorrentes mais poderosos. Funcionários de Singapura ficaram chocados quando passaram pela cultura de demissões rápidas. Além disso, as leis trabalhistas em países como a Holanda preveniram que a Netflix operasse em sua forma verdadeiramente Darwiana.

Padrões duplos para a transparência criam confusões. Um executivo disse que foi demitido por não informar colegas sobre a condições médica de um funcionário, por respeito a privacidade dele. A Netflix disse que não viu isso como algo "verdadeiro conosco em relação a um problema maior com funcionários". Mas Jonathan Friedland, ex-chefe do departamento de comunicações foi um pouco franco e aberto demais ao falar de forma transparente sobre problemas. Ele foi demitido no trimestre passado depois de usar a palavra "nigger" (uma expressão racista) em diversas reuniões aplicando uma linguagem que pode deixar algumas pessoas desconfortáveis.

Hastings demorou meses para demitir Friedland e posteriormente teve a sua seção de "sunshining" admitindo o erro. De acordo com o WSJ, ele se desculpou em um palco e cortou um limão ao meio. Então, ele espremeu o limão em um copo e bebeu. "Quando a vida te dá limões, você faz uma limonada", explicou sabiamente.

Não é assim que se faz uma limonada. É apenas suco de limão. E se você beber demais, provavelmente vai vomitar.

[Wall Street Journal]

Fonte: Gizmodo/Uol

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26 Out, 2018 - 21:24

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