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"Fãs de Battlefield contra mulheres são incoerentes", diz historiador

ImagemLyudmila Pavlichenko, atiradora russa que ficou conhecida como "Lady Death"


A série "Battlefield" vai, novamente, apostar em um conflito do passado: a Segunda Guerra Mundial. A informação foi revelada com a divulgação do primeiro trailer do jogo, no último dia 23 de maio, que traz cenas de ação incessante, que mostra um grupo de soldados lutando em campo aberto, dentro de construções e usando veículos variados tanto para causar dano quanto para se locomover.

Ainda que esse trailer não mostrasse muitos detalhes de gameplay ou de modos do jogo, a reclamação de uma boa porção de fãs da franquia se concentrou em outros aspectos, sendo o mais notável o fato do jogo ter a presença de mulheres no campo de batalha.

Isso fez com uma hashtag emergisse no Twitter: #notmybattlefield, ou "não é o meu Battlefield", em tradução livre. Com ela, dois "exércitos" se digladiaram na rede social. De um lado, aqueles que criticaram a decisão da Dice de ampliar a representação de gênero no jogo, argumentando, entre outras coisas, que isso era uma "imprecisão histórica". Do outro, aqueles que defenderam a decisão da empresa.

Coerência histórica

Para falar sobre o tema, UOL Jogos entrevistou o historiador Cássio Remus de Paula. "Tais acusações (de imprecisão histórica) não poderiam ser mais incoerentes", afirmou, sobre os fãs do game que reclamaram da presença ativa de mulheres no trailer do jogo.

Cássio, que é especializado em história dos videogames, diz que a percepção dessas pessoas acabou sendo influenciada por uma decisão das produtoras de não incluírem mulheres em outros jogos de guerra. "Há uma falta de informações sobre os eventos do conflito. Quem reclama da presença das mulheres em um jogo sobre a Segunda Guerra acaba exaltando apenas as representações feitas por meio de jogos eletrônicos. Ou seja, que a luta envolveu somente combatentes do sexo masculino".

E engana-se quem pensa que o papel das mulheres na guerra envolveu apenas atividades "de escritório" ou, ainda, relacionadas à medicina. "Elas também tinham papel imprescindível na inteligência e contra inteligência, comunicação, logística, transporte, espionagem etc, apenas se nos referirmos aos exércitos formais da maior parte dos Aliados. A situação ia muito além quando falamos dos países ocupados pelos nazistas, algo que não aconteceu com Estados Unidos e Inglaterra. Nestes lugares, a participação das mulheres era ainda mais direta, como aconteceu no Exército Vermelho e nas resistências francesa, polonesa, bielorrussa, entre outras".

Cássio aponta que a falta de registros históricos aprofundados sobre essas combatentes, em especial a de exércitos informais ou formados em caráter de resistência às invasões nazistas, acaba dificultando a percepção da importância de combatentes do sexo feminino na Segunda Guerra.

Ainda assim, há nomes de destaque. "É possível citar a atiradora de elite russo-ucraniana Lyudimila Pavlichenko, que ganhou o apelido de "Lady Death" por matar mais de 300 soldados alemães com seu rifle de atiradora de elite e foi condecorada com seis medalhas, e também Elza Cansanção Medeiros, considerada a brasileira mais condecorada da história, com mais de 200 medalhas. Na Segunda Guerra, ela serviu como tenente e foi uma das primeiras enfermeiras voluntárias da Cruz Vermelha a acompanhar os pracinhas na Itália. Infelizmente, muitos documentos de outras mulheres ilustres se perderam durante o tempo ou no decorrer da guerra".

Além delas, Cássio destaca também a espiã francesa Hélène Deschamps Adams, condecorada em 2000 após sua morte. Essa figura histórica, inclusive, serviu de inspiração para uma das primeiras mulheres a ter destaque em um jogo de guerra: Manon Batiste, protagonista de "Medal of Honor: Underground".

Aqui, é bom deixar claro que falamos sobre coerência histórica e, não necessariamente, sobre precisão. Isso, inclusive, foi ressaltado pela própria Dice, por meio do diretor da produtora Oskar Gabrielson. Disse ele no Twitter: "Queremos que 'Battlefield 5' represente todos que fizeram parte deste grande drama da história humana e dar aos jogadores a opção de escolher e personalizar os personagem com os quais eles jogam."



"Personagens femininas estão aqui para ficar", concluiu.

Cássio vê com bons olhos o protagonismo de mulheres no game. "No relato histórico, as poucas mulheres que são apresentadas como heroínas são verdadeiros símbolos da luta que elas exerceram contra o nazismo. E isso, para o desgosto dos mais preconceituosos, é indiscutível. É bom testemunhar, por outro lado, que esta inserção de gênero esteja incomodando aqueles que não têm referências lógicas. Isso significa que os produtores estão acertando em cheio na inclusão, que não é ficção, do papel das mulheres no decorrer da Segunda Guerra Mundial".

Fonte: Jogos/Uol

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02 Jun, 2018 - 20:40

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