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[REVIEW] The Cave: um adventure point and click não tão moderno assim



Um adventure é para ser saboreado como um prato gourmet, não devorado como um x-burguer de três andares. Essa é a filosofia de Ron Gilbert, o veterano ex-LucasArts e atual integrante da Double Fine. Em The Cave, sua mais nova empreitada, temos um jogo com sabores diferentes do que estamos tão acostumados a ver por aí, e que só pode ser apreciado em sua totalidade com garfadas pequenas e 33 mastigadas de cada lado da boca.

Mas será que isso funciona no mundo hiperativo dos jogos atuais? Será que é isso o que todo mundo quer – incluindo os velhos fãs de point-and-click? Talvez não. The Cave não é para todo mundo. É preciso ter muita paciência para curtir suas sutilezas e seu charme, mas quem conseguir será recompensado com uma experiência nostálgica, divertida e bastante única. Mesmo que ela venha a passos de tartaruga.



O que você mais quer na vida

A caverna é só uma metáfora para a condição humana, é claro, mas nesse caso a metáfora fala. É uma caverna falante feita por Ron Gilbert. Ela faz piada, ironiza suas ações, brinca com a tragédia dos heróis e acaba provando ser um personagem tão divertido e agradável quanto nosso querido Guybrush Threepwood, de Monkey Island.

Para explorar a caverna, você tem à disposição sete heróis, mas só pode formar um grupo de três a cada jogo. Eles vão em busca daquilo que mais desejam. Coisas como o verdadeiro amor, riqueza, reconhecimento ou assassinar seus pais porque eles não te deixam brincar lá fora. Cada um dos heróis tem uma área especial, que só pode ser acessada por eles mesmos, e você precisa coordenar suas ações para resolver os quebra-cabeças espalhados pela caverna. Os personagens não falam, mas seus estilos caricatos e suas histórias relativamente absurdas (narradas nas pinturas rupestres) são mais que suficientes. O cavaleiro leite-com-pera que se arrasta na armadura, os gêmeos góticos que deixam escapar um sorrisinho maligno quando parece que você não está olhando. Logo você descobre quais serão seus preferidos.

E você precisa desses preferidos, afinal. Porque para curtir 100% de The Cave, você vai precisar terminar o jogo três vezes. Como são sete personagens, na terceira vez você vai precisar repetir a aventura com dois dos personagens. Eu já falei que The Cave exige paciência?

Point and Jump

ImagemA caverna tem mansões, pirâmides e mísseis nucleares.

O principal e mais grave problema de The Cave é o quanto ele exige de você como jogador. E essa exigência não tem nada a ver com dificuldade, porque o jogo é relativamente fácil se comparado com os desafios ridículos de alguns point and clicks das antigas. A exigência vem do ritmo descompassado e devagar com o qual você precisa se acostumar para curtir o jogo.

The Cave é um point and click adventure disfarçado de jogo de plataforma, mas o disfarce não ficou tão bom assim. Gilbert falou em diversas entrevistas que a intenção de criar um adventure-de-plataforma era fugir do esquema de movimentação repetitivo e cansativo dos point and clicks – quem já jogou Maniac Mansion, uma das grandes inspirações de Gilbert ao fazer The Cave, sabe bem do que ele está falando. Mas mesmo com um controle mais direto dos personagens e a eliminação do sistema de inventário e combinação de itens, The Cave não consegue fugir dos principais problemas do gênero que o inspirou.

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Controlar três personagens ao mesmo tempo para resolver os puzzles parece interessante, mas o que poderia ser uma mecânica legal se transformou em, isso mesmo, mais trabalho. Significa que você, quando descobrir a solução de um puzzle, vai precisar se movimentar três vezes para executar a resposta. O fato de os puzzles serem fáceis o bastante faz com que você perca mais tempo executando o trabalho braçal do que pensando na solução. E os heróis andam devagar. Sobem escadas mais devagar ainda. E nem vou falar nada das cordinhas que precisamos escalar em ritmo de lesma.

Esse esquema de movimentação, por mais bem intencionado que seja, não é tão "invisível" como deveria, não funciona bem o bastante para que você não precise se importar com ele. Numa caverna de puzzles, ele é mais uma pedra no seu caminho. Assim, movimentar-se em The Cave parece um esforço – não tão grande quanto era nos point and clicks, mas ainda um esforço.

A diferença talvez esteja nas prioridades. Limbo, por exemplo, é antes de mais nada um jogo de plataforma. A movimentação nele é simples, natural, flui bem. Os pulos precisam ser exatos, e você precisa pensar rápido nos momentos de correria. São puzzles condicionados ao sistema de movimentação, que só melhoram o desafio de correr e pular na hora certa.

Mas The Cave é antes de mais nada um adventure. Você não vai errar pulos, não vai precisar reagir agilmente a uma situação difícil, e nem sequer precisa se preocupar em morrer. Os puzzles são a grande estrela do jogo, e toda a movimentação é condicionada aos quebra-cabeças. Assim, ter que escalar uma corda 5 vezes para resolver um desafio soa desnecessário e, na prática, se torna bastante irritante.

The Cave traz um belo avanço em relação ao sistema de movimentação dos point and clicks antigos, sem dúvidas. Mas esse avanço precisava ser bem maior e mais eficiente para conseguir arrastar nas costas um gênero que está parado no tempo há quase 20 anos. Esse problema de ritmo é tão grave, que poderia destruir completamente o jogo – se não fosse pela genialidade de Ron Gilbert e sua capacidade criar microcosmos incrivelmente charmosos.

A cabeça de Ron Gilbert

ImagemRon Gilbert, um dos grandes nomes da era de ouro dos point and clicks (ao fundo, uma caverna).

Se você já jogou qualquer um dos clássicos point and click de Ron Gilbert, vai notar em The Cave aquele charme e humor sutil que só o criador de Monkey Island e Maniac Mansion consegue colocar em seus jogos. O pedigree de Gilbert está no texto excêntrico do jogo, no inegável charme daquelas caricaturas ambulantes que exploram a caverna – preste atenção no jeito de caminhar do caipira, por exemplo – e na lógica absurda dos puzzles que precisamos resolver.

A máquina de salsichas e o atendente do quiosque de suvenires da caverna, que você encontra logo no começo do jogo, são exemplos bastante claros do quão autoral é The Cave. É como se a caverna fosse a cabeça do próprio Gilbert.

E temos as referências, as homenagens, a nostalgia pesada da era LucasArts. Chuck the Plant – a piadinha recorrente de vários jogos da empresa - está lá, fazendo companhia para seu novo amigo Chuck the Flame. O eterno náufrago eremita de Monkey Island também está lá, por mais que ele não tenha o mesmo nome. O quintessencial pé-de-cabra dos point and clicks é o primeiro item que você coleta. Gilbert nos leva de volta para a era de ouro da LucasArts, e isso é ótimo – pelo menos para quem pôde curtir essa era em primeira mão.

Esse charme inteligente, a maneira excêntrica de apresentar uma história e a inevitável nostalgia são as maiores qualidades de The Cave. É por causa disso tudo que preferimos continuar jogando em vez de nos deixar derrotar pelo seu ritmo, pela simplicidade dos seus desafios ou pela quantidade de cordas que precisamos escalar…vagarosamente.

Mas talvez nem isso salve o jogo para a maioria dos jogadores da geração fast food.

Preso no passado

ImagemPrecisamos voltar 20 anos no passado para encontrar um jogo como The Cave.

A realidade amarga é que The Cave é um jogo de nicho, por mais que tente de todas as maneiras se distanciar dessa classificação. Ele vai agradar quem gosta de jogos do Gilbert, vai agradar quem gosta de Point and Clicks, vai agradar nostálgicos de plantão. Mais ninguém.

Eu cresci jogando point and clicks. Jogos como The Dig, Full Throttle, Grim Fandango. Aprendi a curtir suas histórias, apreciar seus puzzles, acompanhar o ritmo travado e cansativo desses jogos. E talvez esse tenha sido o grande motivo de ter gostado tanto de The Cave, a ponto de relevar seus defeitos. Foi uma tentativa válida de trazer os point and clicks de volta, de maneira mais dinâmica e envolvente, mas que infelizmente não conseguiu se livrar dos problemas inerentes ao gênero.

Talvez tudo o que Ron Gilbert queira seja encontrar uma maneira de reviver o estilão clássico de adventures point and click em um formato mais atraente para os jogadores modernos, acostumados novos ritmos, novos formatos, novas recompensas. Se for isso mesmo, acho que ele ainda está vagando pela caverna, um tanto perdido.

Os games mudam, evoluem, e alguns tipos de jogo ficam para trás. Isso aconteceu com o text adventure e, por mais que doa admitir, aconteceu também com o point and click. Os jogos de aventura que melhor funcionam hoje em dia são muito mais interativos e muito menos lentos e lineares do que os clássicos da LucasArts. A Telltale, com The Walking Dead, já provou isso.

Se o desejo de Gilbert é ressuscitar um gênero morto (ou será que não?), temo que ele vá ficar preso em sua caverna para sempre. O consolo é saber que ele não vai ficar sozinho – ele terá grupos de dois ou três que, como eu, cresceram entre tentáculos roxos falantes e brigas de espada com insultos para saborear aos pouquinhos os grandes pratos que só Gilbert sabe preparar.

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Fonte: Kotaku

Comentários

02 Fev, 2013 - 14:18

Comentários

Darthbighead 03 Fev, 2013 21:30 2

Respeito a opnião de cada um e gosto não se discute. Acho q deveriam ter mais jogos como esses adventures, os jogos de hoje estão todos na mesmice (atire em tudo q se mexe, assassine aquele, roube aquele carro...). Cresci jogando os adventures da lucas arts, como monkey island, the dig, etc, e foram eles q me tornaram um gamer. Os jogos tinha uma historia, te fazia pensar horas para resolver um unico enigma, hoje só vemos graficos maravilhosos e enredos de gosto duvidoso. É uma pena q um genero desse não tenha caido no gosto da maior parte dos gamers.

tiagohs 03 Fev, 2013 11:22 2

pra ficar perfeito só falta a tradução da tribo

mano bio 03 Fev, 2013 08:33 0

Gostei muito deste game,comprei ele loga na pré venda na steam,e para um jogador como eu que gosta de vasculhar cada cantinho do cenário,o jogo veio como uma luva,e não me importo de ter que ficar trocando o personagens,ou de subir cordas vagarosamente.ótimo jogo recomendo.

eu mesmo 02 Fev, 2013 16:53 2

Fazia tempo que não jogava um game tão inteligente como esse,
Os personagens são bem carismáticos e a história do game é um tanto que cruel as vezes!
Passa longe de ser um game infantil...
Ótimo game e ótima review !!!

zigbiglig 02 Fev, 2013 15:01 2

To gostando de jogar ele aqui no meu PC com o controle do X360!