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No Brasil, episódio de Dragon Ball Super demora até 72h para ficar pronto

Um viajante que deseja conhecer o Japão deve estar preparado para uma desgastante viagem que, frequentemente, ultrapassa as 24h de duração. Curiosamente, ir e voltar do país asiático leva menos tempo do que as 72 horas necessárias para deixar cada um dos episódios de "Dragon Ball Super" prontos para serem exibidos na TV brasileira.

Acompanhamos um dia de dublagem do anime na Unidub, estúdio localizado em São Paulo, e pode compreender o que ocorre por trás desse processo. E, de cara, foi possível notar que deixar os personagens do desenho com vozes em português é apenas a parte final de um longo processo que, muitas vezes, se assemelha à produção em massa vista em grandes indústrias.

Antes da voz, o texto

O primeiro passo para um episódio chegar à grade de transmissão do Cartoon Network - emissora responsável por televisionar o anime no Brasil desde 5 de agosto deste ano - é dado longe do estúdio da Unidub.

Trata-se da tradução do roteiro de cada capítulo, o que fica a cargo de Marcelo Del Greco e Renata Leitão.

Del Greco possui uma grande experiência no mundo "otaku": ele atuava na saudosa revista "Herói", principal fonte brasileira de informações sobre esse universo nos anos 1990. Na ocasião, ele era o responsável por trazer "fofocas" sobre o que ia rolar em "Cavaleiros do Zodíaco", além de produzir reportagens sobre o universo do anime.

Em entrevista ao UOL Jogos, ele - que já havia trabalhado em outras sagas da série, como "Dragon Ball Z", "GT" e "Kai" - conta que trabalha em dupla com Renata, que fica responsável pela tradução.

"A Renata é muito fã de 'Dragon Ball' e uma vez que ela fez a tradução, o material chega para mim e eu edito, faço correções e a adaptação final. Depois disso, reviso todo o roteiro, assistindo ao episódio para ajustar o sincronismo, conferir as reações dos personagens e acrescentar ou tirar determinadas partes".

De acordo com Del Greco, o roteiro de cada episódio demora dois dias para ficar pronto.

Aquecendo a voz

Uma vez pronto, o roteiro é enviado à Unidub, onde os dubladores de personagens como Goku (Wendel Bezerra), Vegeta (Alfredo Rollo) e Bulma (Tânia Gaidarji) fazem sua "mágica" para deixar os heróis com as vozes que os fãs brasileiros costumaram a ouvir.

Quem comanda esse processo é Wellington Lima, diretor da dublagem do anime no Brasil e também responsável pela voz de Majin Boo no desenho. "Gravamos cada dublador separadamente, em pacotes de cinco episódios. Somando todas as vozes, leva um dia para deixar cada episódio pronto", conta.

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O processo de direção faz com que a dublagem do desenho fique "com a cara" de Lima. Ao lado do seu auxiliar, João Vitor Souza - que é o responsável pela edição das falas no programa ProTools -, ele sugere alterações no roteiro e, frequentemente, adapta expressões. "Nós vamos editando em tempo real e, muitas vezes, precisamos fazer mudanças sobre o material traduzido, acrescentando ou tirando palavras, para que a sincronia entre imagem e som fique perfeita".  

A barreira do idioma

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"Dublar um desenho é fácil. Difícil é fazer isso usando como base o original, em japonês", aponta Tânia Gaidarji, responsável pela voz de Bulma há 18 anos. Ela conta que, quando "Dragon Ball Z" chegou ao Brasil, a dublagem era feita usando a versão mexicana do desenho como base. "Era muito fácil, porque você ouvia as falas e conseguia saber o que a personagem estava fazendo. Com o japonês, é preciso ensaiar mais vezes, até porque a versão original nem sempre está bem sincronizada", diz. 

Por outro lado, a experiência com a personagem facilita o trabalho. "Eu acompanhei o crescimento da Bulma e até chorei quando a vi mais velha em 'GT'. Isso ajuda, porque eu me identifiquei com ela e faço questão que a dublagem use algumas expressões que acabaram se tornando marca registrada dela".

O idioma também é um desafio apontado por Wendel Bezerra, que além disso destaca o sincronismo (ou a falta dele) do anime original como principais dificuldades para a dublagem do desenho. "Em trechos maiores, fica difícil se achar no meio de falas por causa do idioma original. A diferença entre japonês e português, muitas vezes, faz a gente acrescentar uma frase inteira no roteiro original. E fazer tudo ter sentido é complicado".

Ele também aponta que o uso da tecnologia facilitou o trabalho dos dubladores. "Ficou mais simples. Quando você erra por uma margem pequena, é possível arrumar e o resultado disso é que os dubladores aprenderam a trabalhar em um ritmo mais rápido".

Alfredo Rollo é outro que celebra o avanço tecnológico ocorrido entre a época de "Z" e de "Super". E isso se mostra ainda mais fundamental na hora de gravar as vozes de personagens resultantes de uma fusão. "A primeira vez que fizemos uma fusão [no caso, Vegetto, união de Goku e Vegeta, em 'Dragon Ball Z'] , o Wendel e eu gravamos ao mesmo tempo, então foi mais complicado. Hoje, a gente faz separado e qualquer mudança de texto a gente indica para quem vai gravar depois".

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Após tanto trabalho, Bezerra - que é o dono da Unidub - se mostra feliz diz que o resultado do trabalho feito com "Dragon Ball Super". "Ficamos muito felizes quando soubemos que dublaríamos novamente 'Dragon Ball', mas um desenho com uma base de fãs tão grande cria uma grande responsabilidade, você não pode falhar. Sempre alguém não vai gostar de alguma coisa, mas se você tiver uma porcentagem grande de aceitação, vale a pena".

Fonte: Jogos/Uol

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21 Set, 2017 - 14:14

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