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YouTube tem renda 'bem baixa' no Brasil, diz Felipe Castanhari: 'Pouca publicidade para muito vídeo'



Youtuber fala sobre processo de criação - que envolve até astrofísico - e critica colegas que culpam a plataforma 'pela própria incompetência'. Ele estará no Rock in Rio em 24 de setembro.

No imaginário coletivo, ser youtuber é publicar um vídeo gravado no próprio quarto e depois esperar que o Google lhe deposite alguma grana. Mas faz tempo que não é bem assim.


A frase acima é de Felipe Castanhari, dono do Canal Nostalgia e um dos nomes mais bem-sucedidos do ramo no Brasil hoje. Seus dois canais no YouTube acumulam mais de 12 milhões de seguidores.

O jovem de Osasco (SP) explica que "há pouca publicidade para muito vídeo" na plataforma. "Esse bolo, que tem que ser repartido para muita gente, não cresceu. Pode até ter diminuído um pouco desde o ano passado."

É das propagandas que ele negocia diretamente com as marcas que sai o seu sustento e o da maioria dos grandes youtubers brasileiros hoje. Mas Castanhari faz outros planos: quer mostrar que consegue produzir conteúdo original para TV e streaming.

"Não quero ficar pelo resto da vida produzindo para o YouTube. Ele é muito urgentista. Não posso ficar duas semanas sem postar no canal, senão ele cai."

ImagemCastanhari em vídeo de sua série sobre ciência


De Beatles a Estado Islâmico

No Canal Nostalgia, o youtuber explica com línguagem simples assuntos espinhosos, como a Guerra na Síria, o Estado Islâmico e a política brasileira. Também fala sobre curiosidades, personalidades históricas e, numa série que acaba de lançar, sobre ciência.

No dia 24 de setembro, esses e outros temas poderão aparecer no Digital Stage, espaço dedicado a youtubers no Rock in Rio. Castanhari fará dinâmicas com o público, que também vão envolver assuntos ligados às atrações do festival. Ele quer aproveitar para assistir ao show do Red Hot Chili Peppers.

Na entrevista abaixo, o rapaz fala sobre o que prepara para o festival, o processo de criação de seus vídeos - que envolve historiadores e até astrofísico - e a "desinformação" que circula na internet. Também critica a "hipocrisia" de youtubers que culpam a plataforma "pela própria incompetência".

ImagemCastanhari reproduz capa dos Beatles com os também youtubers PC Siqueira, Lucão e Caue Moura


Já sabe como será sua apresentação no Digital Stage?

Felipe Castanhari - A gente tá preparando ainda. Como é uma apresentação ao vivo, em que as pessoas podem se disperçar muito fácilmente, é importante que tenha a ver com o festival, que envolva rock. Serão dinâmicas com o público, que também vão passar conteúdo.

Vai aproveitar para assistir a algum show?

Felipe Castanhari - Quero muito ver o Red Hot [Chili Peppers]. É o que eu mais gosto nesse ano. No último Rock in Rio, fui para ver o System Of A Down e o Queen, que sou bem fã. Adoro o festival.

Qual é a sua principal renda hoje?

Felipe Castanhari - Publicidade. Tudo que você fala tem um valor quando você é uma figura pública, por isso algumas empresas se interessam em associar suas marcas a influenciadores. A renda do YouTube no Brasil é bem baixa. A gente tem um mercado que não cresceu tanto quanto a quantidade de conteúdo gerado. Tem muitos vídeos, e essa quantidade não pode ser equiparada à crescente de publicidade. Ou seja:

Há pouca publicidade para muito vídeo. Esse bolo, que tem que ser repartido para muita gente, não cresceu. Pode até ter diminuído um pouco desde o ano passado.


Para você ter uma fatia grande, precisa ser gigantesco. Quando se faz um conteúdo mais trabalhado, não dá para soltar um vídeo por dia. Meu número de visualizações nunca vai ser tão grande quanto o de alguém que posta todos os dias. Por isso meu ganho de AdSense [serviço de publicidade do Google] há muito tempo não é minha renda principal. Se fosse, eu já teria falido.

Em termos comerciais, você acha que a plataforma está passando por algum tipo de transição?

Felipe Castanhari - O YouTube mudou bastante. Hoje está sendo muito acessado por crianças. [Esse nicho] está crescendo absurdamente, e alguns canais que focaram nisso estão bombando muito agora. A plataforma está virando mainstream. Hoje em dia todo mundo conhece ou assiste algum canal. Isso é uma coisa boa. Contanto que eu continue tendo minha audiencia e meu sustento, estou feliz.

ImagemCastanhari e o amigo Christian Figueiredo


O Felipe Neto já reclamou num vídeo que o YouTube dá privilégios a alguns youtubers e a outros não. Isso acontece? Rola muita competição?

Felipe Castanhari - Eu acho um pouco hipócrita por parte de qualquer youtuber reclamar da plataforma. Foi ela que fez os youtubers serem quem são. O YouTube é extremamente democrático.

Algumas pessoas, quando estão em decadência, gostam de culpar o YouTube pela própria incompetência, cospem no prato que comeram.


É um meio em que rola muito ego?

Felipe Castanhari - O ego atrapalha muito em qualquer profissão, é sempre um obstáculo a ser ultrapassado. Quando você começa a cair [no YouTube], o seu ego te faz pensar algo do tipo: "O problema não pode ser eu. É a plataforma, o público".

Não vejo dessa maneira. Para mim é sempre nossa culpa. Se eu começar a cair, talvez seja porque as pessoas enjoaram do meu trabalho ou não estou fazendo direito. Não é o publico que não gosta mais de mim porque é idiota. É muito difícil olhar para si mesmo e enxergar que está sendo incompetente.

Nos seus vídeos, você fala sobre temas difíceis de entender - e mais ainda de explicar -, como a Guerra na Síria e o sistema político brasileiro. Como é a elaboração dos roteiros? Você também estuda os assuntos?

Felipe Castanhari - Para os vídeos mais longos, tenho uma equipe bem grande. Passo um briefing para o roteirista, informações sobre como explorar o roteiro. Ele, então começa a escrever, passa para mim e eu reviso. Depois disso, passamos para um historiador: ele ajuda, altera, dá toda a consultoria. [O texto] volta pra mim, eu leio e também pesquiso sobre o assunto. Não vou deixar toda a responsabilidade em cima de mim, mas também entendo do que falo porque só falo de coisas que eu gosto.

Às vezes essas explicações recaem em temas polêmicos. Acontece muito de questionarem o que você diz? Já caiu em patrulhas da internet?

Felipe Castanhari - Você tá exposto a patrulhas em qualquer coisa que faça. A internet dá voz a opiniões que, às vezes, não têm embasamento ou intenção de agregar, só de atacar. Tnto ser o mais amplo possível, mas sempre vão ter pessoas que não têm tanto conhecimento, entram em qualquer matéria que veem.

A internet está cheia de desinformação. A minha parte eu faço, que é consultar pessoas que estudaram a vida inteira sobre os assuntos dos quais eu falo.


Também faço vídeos de ciência. No último, por exemplo, tive a consultoria de um astrofísico. Prefiro confiar na palavra de especialistas.

Seu canal é uma forma de combater desinformação, fake news?

Felipe Castanhari - É, com certeza. Não tenho objetivo de trazer informação para o mundo. Eu faço o que eu gosto, o objetivo do meu canal é trazer entretenimento. Não quero entrar na cabeça das pessoas ou divulgar algum posicionamento político.

ImagemCastanhari e o amigo, Julio Cocielo


E o que você acha de youtubers que divulgam posicionamentos ou fazem algum tipo de propaganda política?

Felipe Castanhari - Eu não condeno ninguém que queira falar de política. Ela tem que ser discutida mesmo. Se você não entende ou discute o assunto, acaba sendo governado pelas pessoas que entendem. Não vejo problema em dar sua opinião, claro que é uma opinião e não verdade absoluta, ou fazer propaganda, também deixando claro que é uma propaganda.

Qual mudança você mais sentiu do início da sua carreira até hoje?

Felipe Castanhari - Mudou tudo. Hoje eu tenho uma equipe grande para administrar. Tenho uma responsabilidade grande também. Comecei por hobby e hoje professores usam alguns vídeos meus em sala de aula. Minha vida é outra também. É difícil ter uma rotina quando você trabalha com produção de conteúdo.

Como você se vê no futuro?

Felipe Castanhari - Meu segmento de vídeo de ciência já é uma tentativa de mostrar que consigo produzir conteúdo 100% original. Quero mostrar para outros veículos que consigo fazer conteúdo original pra TV, Netflix, Amazon Prime... Também estou produzindo uma animação para adultos. Não tem muitas do tipo por aqui, porque é caro produzir animação no Brasil. Estou bancando do meu bolso. Quero tentar vender para alguma TV.

Não quero ficar pelo resto da vida produzindo para o YouTube. Ele é muito urgentista. Não posso ficar duas semanas sem postar no canal, senão ele cai. Minha ideia é chegar num ponto em que eu possa produzir algo com muita qualidade.


Fonte: G1/Globo

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20 Set, 2017 - 11:56

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