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Sexo e sangue no 'Minecraft': você sabe a que seu filho anda assistindo?

Encontrar uma criança ou adolescente que não saiba o que é "Minecraft" é tarefa praticamente impossível. Mesmo quem não joga acaba envolvido pelos mundos dos blocos no YouTube, acompanhando novelinhas narradas e interpretadas por seus youtubers favoritos - muitos deles já ricos, graças aos milhões de seguidores e visualizações. O problema é que muito deste conteúdo, consumido por crianças, está recheado de sexo, violência e machismo. Fica a pergunta: você sabe o que seu filho ou filha anda vendo no YouTube?



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Pedro Afonso "rezendeevil" Posso é um dos maiores ícones do entretenimento infantojuvenil na internet. Com vídeos de histórias criados dentro do Minecraft, o jovem de 20 anos conquistou mais de 11 milhões de seguidores - a maioria crianças de menos de 15 anos. Livros assinados por ele com narrativas baseadas no game já passaram da marca de 300 mil cópias vendidas. Em 2016, ele fez turnê pelo Brasil com uma peça infantil que foi assistida por mais de 110 mil pessoas. Tamanha influência o fez figurar na lista dos destaques brasileiros abaixos dos 30 anos da revista Forbes.

Mas o teor de um vídeo publicado recentemente por "rezendeevil" fez um fã questioná-lo nos comentários: "Isso é vídeo pornô ou pra crianças?"

Nos vídeos da série "Pelados", versões nuas dos bonecos de "Minecraft" enfrentam situações como a aparição de um 'velho tarado' e sucessivas traições entre personagens que são namorados. Em "Who's Your Daddy?!", um bebê se masturba para vídeos pornô e morre afogado na banheira, esmagado, decapitado e queimado no fogão - e embora os gráficos do jogo não sejam realistas, os ícones que chamam os espectadores para os vídeos mostram todas essas situações de maneiras bem gráficas, com sangue para todos os lados.

Em 'vlogs' publicados lado a lado com os vídeos de "Minecraft" no canal, Rezende e amigos 'trollam' uns aos outros com falsos testes de gravidez e supostas 'nudes' vazadas. Em outros, em que a câmera sempre busca decotes, garotas com roupas bastante reveladoras se embolam em brincadeiras como twister e 'a escada safada'. Nos comentários, usuários falam sobre masturbação e apontam como, em um vídeo recente, os mamilos de uma das amigas de Rezende ficaram visíveis através da blusa após ela cair na piscina.

O canal do maior youtuber de games brasileiro é apenas um exemplo de um fenômeno preocupante. Milhares de canais produzem vídeos de "Minecraft" hoje em dia - e alguns, na tentativa de chamar atenção em meio ao caos, passaram a recorrer a temas como sexo, violência e machismo, ignorando o fato de que são crianças que consomem este tipo de produto.

ImagemOs vários vídeos do Youtube com conteúdo polêmico de Minecraft


Não é para crianças

Reprodução/YouTube
"O maior problema é que o contato com este tipo de conteúdo causa uma enorme confusão na cabeça da criança," explica o pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, Alberto Helito. "A criança pequena não entende questões como violência, sexualidade e uso de drogas. E o que acontece é que ela acaba confundindo um vídeo desses com aquilo que é legal de verdade para elas."

"Uma criança que ouve palavrão em casa ou da boca dos amigos acaba reproduzindo aquilo sem fazer o julgamento de valor, porque ela não entende aquela questão."

O médico relata que casos de pais preocupados com o tipo de conteúdo que os filhos acompanham no YouTube estão ficando cada vez mais comuns nos consultórios de pediatria. "Além do 'Minecraft', há vídeos com conteúdo adulto que usam outros ícones que as crianças reconhecem, como 'Frozen' e 'Peppa Pig'," diz. "Elas são muito mais propensas a repetirem um gesto ou um palavrão que viram em um vídeo que conversa diretamente com elas."

"Imaginar que a criança vai se tornar violenta ou promíscua porque viu um vídeo desses é forçar a barra. Mas é um conteúdo inadequado porque confunde a criança que está no período de formação."

O YouTube é uma porta aberta para uma série de conteúdos sobre os quais os pais não têm controle. Por isso, é sempre importante que eles estejam atentos.

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Alberto Helito, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas


Eles têm culpa?

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O YouTube?

Questionado, o YouTube se resguarda por meio de suas diretrizes para a comunidade. O site afirma não permitir conteúdo "explícito ou violento", nem "nudez ou conteúdo sexual", e diz que monitora todos os tipos de publicações tanto por meio de algoritmos quanto por controle humano.

O mesmo tipo de curadoria é realizado no aplicativo YouTube Kids, que é teoricamente seguro para crianças, mas onde pudemos ver alguns dos vídeos citados nesta matéria. "Nenhum sistema automatizado é perfeito," afirma o YouTube. "Pedimos que os pais marquem vídeos que os preocupam para fazer [do aplicativo] melhor para todos."

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A Microsoft?

A Microsoft é a dona da marca "Minecraft". Em conversas com a assessoria da empresa, a reportagem descobriu que a empresa observa tudo o que é criado pela comunidade, mas não cria restrições específicas sobre o tipo de conteúdo relacionado ao game que é publicado no YouTube.

Além disso, a produtora não remunera diretamente os criadores de conteúdo.

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A Classificação Indicativa?

"Vídeos caseiros não são alcançados pelo monitoramento da política pública," esclarece Natália Monteiro, da assessoria do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Mas a Classificação Indicativa, ao lado do Ministério Público, estuda uma maneira de fiscalizar o conteúdo produzido para o YouTube. "O tema é pauta na Secretaria Nacional de Justiça, que se preocupa em encontrar uma situação eficaz - como a autoclassificação, por exemplo - para esse segmento."

A Classificação Indicativa não substitui o controle dos pais. Por isso recomendamos que os pais e responsáveis assistam e conversem com os filhos sobre os conteúdos e temas abordados na mídia.

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Natália Monteiro, assessora do Ministério da Justiça e Segurança Pública


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Nas mãos dos pais

"Nenhum pai vai conseguir acompanhar o que os filhos estão assistindo o tempo todo, mas dá para ver os canais que eles mais visitam, e explicar para as crianças no que elas podem ou não clicar," explica o pediatra Alberto Helito.

"Se a criança entende desde cedo que quem manda na casa são os pais, elas vão seguir as regras."

Mas e se algum conteúdo impróprio passar pelo radar, o que deve ser feito? "Todos esses problemas passam na base da conversa," garante Alberto. "A exposição de crianças a temas assim não é uma novidade do 'Minecraft' - quando elas veem uma cena de sexo na novela das oito, por exemplo, os pais precisam sentar com elas e explicar o que está acontecendo de uma maneira que elas consigam digerir com o conhecimento que elas têm."

"No consultório, eu mostro para os pais como eles podem simplificar essas questões. Relação sexual? 'Ah, eles são namorados.' Isso encerra a situação e não engana a criança," diz. "O estrago feito pelo vídeo costuma ser pequeno. A forma que a família lida com isso é que vai determinar o impacto de algo na criança. Por exemplo: se a violência em um vídeo de 'Minecraft' é algo estranho para ela, se não é algo que ela vê também dentro de casa também, é um problema fácil de contornar."

Youtubers respondem

Procuradas, as equipes de produção dos canais "WiiFer0iz", "super99andre" e "Luiz1227", cujos vídeos serviram como exemplos ao longo desta matéria, não responderam nossos questionamentos sobre o teor do conteúdo que eles produzem.

Já a equipe de produção do "rezendeevil" afirmou que o canal está "passando por uma ampliação da faixa etária," e que isso resultará na criação de dois canais paralelos. Um deles, que foi ao ar no último sábado (3), será voltado para crianças de até 7 anos; outro, que ainda será inaugurado, irá reunir os vídeos de "Minecraft". A produção de 'vlogs' continuará no canal principal. "[A questão do conteúdo com teor adulto] preocupa o Rezende e ele está sempre tentando fazer o possível para manter a confiança dos inscritos e de seus pais," disse o representante do canal.

Reprodução
A culpa não é do jogo

Um dos videogames mais vendidos de todos os tempos, "Minecraft" já provou seu valor como uma ferramenta de aprendizado que pode ser benéfica para o desenvolvimento das crianças, independentemente do tipo de conteúdo que youtubers criam com base nele.

De acordo com o professor Francisco Tupy, que usa "Minecraft" em sala de aula para incentivar o pensamento criativo de seus alunos, "[o game] é um espaço em que cada um pode se expressar e ser de sua própria maneira."

Um estudo publicado pela Universidade de Brock, no Canadá, afirma que jogos como "Minecraft" estimulam "a proximidade com a família, a dedicação a atividades e o envolvimento com a escola," além de "fortalecerem a autoestima."

A própria Microsoft oferece uma 'edição educacional' do game para escolas, já utilizada em mais de 40 países, por meio da qual professores podem ensinar matemática, história e outros assuntos para alunos do Ensino Fundamental. O jogo consegue ensinar até mesmo conceitos básicos de programação.

"Eu vejo 'Minecraft' como um jogo adequado e interessante para a faixa de idade pediátrica," afirma Alberto Helito. "Ele fortalece a imaginação e a criatividade, incentiva o raciocínio lógico na solução de problemas, e ensina o valor do trabalho em equipe para aqueles jogadores que exploram o mundo do game ao lado dos amigos."

"A questão dos vídeos com conteúdo impróprio para menores não é um problema do jogo em si. São adultos e adolescentes que estão usando o game como veículo para esse tipo de conteúdo, subvertendo o propósito da brincadeira."

Fonte: Uol

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10 Jun, 2017 - 13:15

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